julho 21, 2008

A voz do morro

Para quem mora nas favelas cariocas coalhadas de traficantes armados até os dentes, abrir a boca representa risco de vida. Qualquer palavra em falso poder soar como uma delatação, tanto aos ouvidos da polícia quanto aos dos bandidos. é por isso que nos morros do Rio de Janeiro o silêncio vale mais do que ouro. Pode valer a própria pele. Mesmo os líderes comunitários evitam certos assuntos.
Jorge Luiz de Souza, 34 anos, presidente da associação de moradores do morro Andaraí, vai na contramão de seus colegas de movimento comunitário. Fala sobre qualquer assunto, explica como e porque os traficantes se iniciam na vida do crime e relatam a forma violenta como os policias tratam os moradores do morro, sejam eles bandidos ou não.
Negro, corpo magro e vestido quase sempre com bermuda, camiseta e chinelos, faz bem o tipo que a polícia costuma escolher como vítima preferencial para seus abusos. Ele, porém, não se intimida - denúncia, grita, argumenta. "É preciso que a polícia entenda que pena de morte não vigora no Brasil", reclama. Também não perdoa os traficantes que fazem com que as crianças e os trabalhadores do morro convivam com drogas e armas pesadas. Souza ataca até mesmo as organizações não-governamentais, que costumam falar em nome dos moradores do morro. "Quem deve falar pelo favelado é o próprio favelado".
Estudantes de pedagogia, ele prioriza as crinaças em seu trabalho social - coordena uma creche e sempre tira os pequenos da favela para leva-los a museus e teatros, "somente a educação pode tirar as crianças das mãos do traficante", receita. É na condição de quem acompanha de perto os problemas da favela que ele relata o dia a dia do Andaraí com seus sete mil moradores. Um lugar transformado em campo de batalha pela miséria e tráfico de drogas.


(Filho, Alves)

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